É tempo de preparação para a salvação que o
Senhor veio nos oferecer. Penitência, jejum, oração, caridade, abstinência, são
marcas deste período. Contemplando o Cristo no deserto, vencendo suas
tentações, sustentando seu jejum, somos convidados também a acompanhá-lo em
suas dores e reconciliarmo-nos com Deus. Quarenta dias de reflexão, de abandono
e entrega total como o próprio Cristo, por sua compaixão e misericórdia para
conosco, vencendo cruzes e tentações de nossas vidas.
V Domingo da Quaresma: “Em verdade, em
verdade vos digo, se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua
só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto” (João 12, 24). Esta
mensagem de conforto nos dada por Cristo neste dia faz-nos consolar-se por
nossos irmãos que já faleceram. Neste último domingo da quaresma, Jesus deixa
claro, de modo especial neste evangelho, sua missão e indicar de que modo e para
quê iria morrer. Deus, apresentado na liturgia de hoje, rico em misericórdia e
de compaixão, faz-se amoroso conosco, e aos que esperavam justiça e vingança,
um Deus que acolherá e fará um grande banquete, quando o filho pródigo retornar
a casa. Todos os conhecerão- do maior ao menor- pois não mais o Senhor se
lembrará nossos pecados. Cor roxa. Aos que aproveitaram este período para
reconciliação com Deus, tem neste dia a certeza, através das leituras, de que o
Senhor acolheu suas súplicas e este agora se torna Teófilo- amigo de Deus.
Ladear o ambão com velas e ornamentar com trigos e sementes.
Em preparação para a Páscoa, surgiu já nos primeiros tempos
do cristianismo um período voltado a preparar melhor os fiéis para o mistério
central da Redenção de Cristo.
Esse período era de um dia apenas. Ele foi se alongando com
o tempo, até chegar à duração de 6 semanas. Daí o nome quaresma,
do latim quadragesimae, em referência aos 40 dias de preparação
para o mistério pascal. A quaresma, para os fiéis, envolve duas práticas
religiosas principais: o jejum e a penitência. O primeiro, que já chegou a ser
obrigatório para todos os fiéis entre os 21 e os 60 anos de idade, exceto aos
domingos, foi introduzido na Igreja a partir do século IV.
O jejum na antiga Igreja latina abrangia 36 dias. No século
V, foram adicionados mais quatro, exemplo que foi seguido em todo o Ocidente
com exceção da Igreja ambrosiana. Os antigos monges latinos faziam três
quaresmas: a principal, antes da Páscoa; outra antes do Natal, chamada de
Quaresma de São Martinho; e a terceira, a de São João Batista, depois de
Pentecostes.
Se havia bons motivos para justificar o jejum de 36 dias,
havia também excelentes razões para explicar o número 40. Observemos em
primeiro lugar que este número nas Sagradas Escrituras representa sempre a dor
e o sofrimento.
Durante 40 dias e 40 noites, caiu o dilúvio que inundou a
terra e extinguiu a humanidade pecadora (cf. Gn. 7,12). Durante 40 anos, o povo
escolhido vagou pelo deserto, em punição por sua ingratidão, antes de entrar na
terra prometida (cf. Dt 8,2). Durante 40 dias, Ezequiel ficou deitado sobre o
próprio lado direito, em representação do castigo de Deus iminente sobre a
cidade de Jerusalém (cf. Ez 4,6). Moisés jejuou durante 40 dias no monte Sinai
antes de receber a revelação de Deus (cf. Ex 24, 12-17). Elias viajou durante
40 dias pelo deserto, para escapar da vingança da rainha idólatra Jezabel e ser
consolado e instruído pelo Senhor (cf. 1 Reis 19, 1-8). O próprio Jesus, após
ter recebido o batismo no Jordão, e antes de começar a vida pública, passou 40
dias e 40 noites no deserto, rezando e jejuando (cf. Mt 4,2).
No passado, o jejum começava com o primeiro domingo da
quaresma e terminava ao alvorecer da Ressurreição de Jesus. Como o domingo era
um dia festivo, porém, e não lhe cabia portanto o jejum da quaresma, o Dia do
Senhor passou a ser excluído da obrigação. A supressão desses 4 dias no período
de jejum demandava que o número sagrado de 40 dias fosse recomposto, o que
trouxe o início do jejum para a quarta-feira anterior ao primeiro domingo da
quaresma.
Este uso começou nos últimos anos da vida de São Gregório
Magno, que foi o sumo pontífice de 590 a 604 d.C. A mudança do início da
quaresma para a quarta-feira de cinzas pode ser datada, por isto, nos primeiros
anos do século VII, entre 600 e 604. Aquela quarta-feira foi chamada justamente
de caput jejunii, ou seja, o início do jejum quaresmal, ou caput
quadragesimae, início da quaresma.
A penitência para os pecadores públicos começava com a sua
separação da participação na liturgia eucarística. Mas uma prescrição
eclesiástica propriamente dita a este respeito é encontrada apenas no concílio
de Benevento, em 1901, no cânon 4.
O cristianismo primitivo dedicava o período da quaresma a
preparar os catecúmenos, que no dia da Páscoa seriam batizados e recebidos na
Igreja.
A prática do jejum, desde a mais remota antiguidade, foi
imposta pelas leis religiosas de várias culturas. Os livros sagrados da Índia,
os papiros do antigo Egito e os livros mosaicos contêm inúmeras exigências
relativas ao jejum.
Na observância da quaresma, os orientais são mais severos
que os cristãos ocidentais. Na igreja greco-cismática, o jejum é estrito
durante todos os 40 dias que precedem a Páscoa. Ninguém pode ser dispensado,
nem mesmo o patriarca. Os primeiros monges do cristianismo, ou cenobitas,
praticavam o jejum em rememoração de Jesus no deserto. Os cenobitas do Egito
comiam contados pedaços de pão por dia, metade pela manhã e metade à noite, com
um copo d’água.
Houve um tempo em que não era permitida mais que uma única
refeição por dia durante a quaresma. Esta refeição única, no século IV, se
realizava após o pôr-do-sol. Mais tarde, ela foi autorizada no meio da tarde.
No início do século XVI, a autoridade da Igreja permitiu que se adicionasse à
principal refeição a chamada “colatio”, que era um leve jantar. Suavizando-se
cada vez mais os rigores, a carne, que antes era absolutamente proibida durante
toda a quaresma, passou a ser admitida na refeição principal até três vezes por
semana.
As taxativas exigências do jejum quaresmal eram publicadas
todos os anos em Roma no famoso Édito sobre a Observância da Quaresma.
A prática do jejum, no passado, era realmente obrigatória, e quem a violasse
assumia sérias consequências.
Os rigores eram tais que o VIII Concílio de Toledo, em 653,
ordenou que todos os que tinham comido carne na quaresma sem necessidade se
abstivessem durante todo o ano e não recebessem a comunhão no dia da Páscoa.
Giovanni Preziosi
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